Minha mãe me acordou cedo hoje e eu ainda não entendi bem o porque, estou de férias...tenho direitos! Hoje ela não me mandou tomar banho, nem escovar os dentes, pentear o cabelo, trocar de roupa. Ao contrário, mandou que eu ficasse do jeito que acordei. Achei um pouco estranho, mas sinceramente gostei de não ter que fazer todas essas obrigações chatas.
Ela não esperou eu comer alguma coisa, mandou eu ir logo pro portão porque estávamos atrasados. Subimos no ônibus e ela não passou a roleta. Começou a falar que eu precisava de um leite especial e de remédios caros que ela não podia pagar. Eu olhava pra minha mãe tentando entender tudo aquilo que ela estava dizendo. Será que estou doente e por isso minha mãe está tão estranha?
Uma regra que aprendi apanhando que nunca posso desmenti-la na frente dos outros, então é melhor eu me calar, mas tá difícil é calar a barriga que ronca.
Descemos do ônibus e fomos para porta de um banco amarelo. Minha mãe me colocou no colo, coisa que ela nunca faz, envolveu num pano sujo e fedorento e ficou me embalando. Eu gostei desse tão inusitado carinho, mas o que estávamos fazendo ali? Escutei o tilintar das moedas no prato e comecei entender que estávamos pedindo esmola.
Nem sabia que éramos tão pobres. Lá perto de casa tem gente tão pobre que dá dó, mas nós não. Eu não sou pobre, tenho tênis, bola, blusa, fogão, geladeira, televisão, dvd...
Aquele primeiro dia passou rápido, ganhei muitas coisas na rua, mas eu queria ter ficado em casa vendo a TV, deitado no sofá.
Quando fomos para a rodoviária, minha trocou as moedas por notas. Pegamos o ônibus e pedimos esmolas. No caminho de casa passamos no mercado. Eu entrei no corredor dos biscoitos que eu não gostava nem de olhar. Escolhi o mais barato e coloquei na cestinha. Fui todo tímido esperando o beliscão e a ordem de botar de volta, mas pra variar isso não aconteceu, minha mãe perguntou tem certeza que é esse? Eu só tive coragem de responder que sim, já tava bom demais pra ser verdade.
Passamos no caixa e pela primeira vez eu não vi minha mãe pedindo pra falar com seu Moacir dono do mercado, não vi minha mãe perguntar se tinha frutas lá no fundo, se eles tinham separado o boff. Esse dia foi louco, tudo que eu sabia foi colocado em xeque. Até escovar dentes não era mais necessário e biscoito podia ser comprado.
Passaram 2 meses e desde aquele dia eu não fui mais pra escola. Decidi que não quero saber de escola, ela não dá o que a rua dá. Aqui eu sou livre e consigo tudo que eu quero. Uns meninos me ensinaram a fazer a cara certa na hora de pedir. Visualizo a madame, estendo a mão e faço minha cara de pidão e elas se derretem por mim. Pessoal lá na escola se matando e eu tô aqui no bem bom. Isso que é vida. Minha mãe diz que é só um tempo, ela já vai arrumar um trabalho e eu volto pra escola.
Hoje é dia de Cosme e Damião e eu vou correr pra pegar os doces. Meu dia favorito do ano. Minha mãe começou a trabalhar a uns 20 dias na casa de uma madame que ela conheceu lá na rua. Ela mandou eu ir pra escola. Eu digo que eu vou, mas nem passo na porta, não quero saber desse negócio de escola nunca mais. Coisa chata, vou pra rua que eu ganho mais.
Hoje me ensinaram a engraxar sapatos
Hoje me ensinaram a fugir da polícia
Hoje me ensinaram a roubar
Ela não esperou eu comer alguma coisa, mandou eu ir logo pro portão porque estávamos atrasados. Subimos no ônibus e ela não passou a roleta. Começou a falar que eu precisava de um leite especial e de remédios caros que ela não podia pagar. Eu olhava pra minha mãe tentando entender tudo aquilo que ela estava dizendo. Será que estou doente e por isso minha mãe está tão estranha?
Uma regra que aprendi apanhando que nunca posso desmenti-la na frente dos outros, então é melhor eu me calar, mas tá difícil é calar a barriga que ronca.
Descemos do ônibus e fomos para porta de um banco amarelo. Minha mãe me colocou no colo, coisa que ela nunca faz, envolveu num pano sujo e fedorento e ficou me embalando. Eu gostei desse tão inusitado carinho, mas o que estávamos fazendo ali? Escutei o tilintar das moedas no prato e comecei entender que estávamos pedindo esmola.
Nem sabia que éramos tão pobres. Lá perto de casa tem gente tão pobre que dá dó, mas nós não. Eu não sou pobre, tenho tênis, bola, blusa, fogão, geladeira, televisão, dvd...
Aquele primeiro dia passou rápido, ganhei muitas coisas na rua, mas eu queria ter ficado em casa vendo a TV, deitado no sofá.
Quando fomos para a rodoviária, minha trocou as moedas por notas. Pegamos o ônibus e pedimos esmolas. No caminho de casa passamos no mercado. Eu entrei no corredor dos biscoitos que eu não gostava nem de olhar. Escolhi o mais barato e coloquei na cestinha. Fui todo tímido esperando o beliscão e a ordem de botar de volta, mas pra variar isso não aconteceu, minha mãe perguntou tem certeza que é esse? Eu só tive coragem de responder que sim, já tava bom demais pra ser verdade.
Passamos no caixa e pela primeira vez eu não vi minha mãe pedindo pra falar com seu Moacir dono do mercado, não vi minha mãe perguntar se tinha frutas lá no fundo, se eles tinham separado o boff. Esse dia foi louco, tudo que eu sabia foi colocado em xeque. Até escovar dentes não era mais necessário e biscoito podia ser comprado.
Passaram 2 meses e desde aquele dia eu não fui mais pra escola. Decidi que não quero saber de escola, ela não dá o que a rua dá. Aqui eu sou livre e consigo tudo que eu quero. Uns meninos me ensinaram a fazer a cara certa na hora de pedir. Visualizo a madame, estendo a mão e faço minha cara de pidão e elas se derretem por mim. Pessoal lá na escola se matando e eu tô aqui no bem bom. Isso que é vida. Minha mãe diz que é só um tempo, ela já vai arrumar um trabalho e eu volto pra escola.
Hoje é dia de Cosme e Damião e eu vou correr pra pegar os doces. Meu dia favorito do ano. Minha mãe começou a trabalhar a uns 20 dias na casa de uma madame que ela conheceu lá na rua. Ela mandou eu ir pra escola. Eu digo que eu vou, mas nem passo na porta, não quero saber desse negócio de escola nunca mais. Coisa chata, vou pra rua que eu ganho mais.
Hoje me ensinaram a engraxar sapatos
Hoje me ensinaram a fugir da polícia
Hoje me ensinaram a roubar
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