Ele
segurou meus ombros e me sacudindo perguntou:
- O
que mais eu podia fazer que eu não fiz?
Eu
que nunca tinha visto seus olhos tão arregalados e assustados fiquei surpresa
ao vê-lo me suplicar respostas. Ele continuou me segurando e me disse.
-
Uma cruz não foi suficiente. Eu sofri, morri, por você.
Soltei
os braços dele de mim e tomada de uma surpreendente coragem o encarei. Encarei
como nunca antes. Uma coragem me assaltou e eu pude fazer minha oração mais
sincera diante daquele que eu tanto amei.
Eu
esperava que o dia dessa conversa fosse um dia apocaliptico, um dia derradeiro.
Não imaginava que fosse hoje, um dia que ainda vão ser sucedidos de outros e
que irei lembrar por muito tempo. Antes prematuro que natimorto.
Pois
bem, quando eu te conheci recebi de herança um dívida que me era cobrada
sempre. Todos os domingos (que eu também era obrigada a te visitar) me
lembravam do seu sacrifício. Isso me lembra muito o trabalho escravo que as
pessoas ja chegam devendo um dívida impagável. Eu esperava chamar sua atenção,
ser tua amiga,te trazer para dentro de mim. Mas isso não rolou. O que vieram
foram acusações, vieram pesos, discursos, dores.
Tinham
os momentos de alegria em que esquecia a minha dívida, mas isso era os minutos
que sucediam a minha confissão pública dos meus erros. Os meus apontamentos tão
fortes contra cada detalhe meu que não correspondia as suas expectativas.
Me
falaram que eu podia ser livre em teus braços em Deus...mas so vivi mais
prisões, medos, angústias e vontade de esconder tudo aquilo que de ruim havia
em mim. E eu busquei mas tuas formas a felicidade. Busquei refúgio nas tuas
restrições e so consegui isso, migalhas de apagamentos.
E
agora tu vens me perguntar sobre o que mais poderia ter feito por mim?
Você
poderia ter me dado asas para voar e viver e para voltar para ti. O tempo que
eu gasto e gastei tentando me adequar aos seus modelos so me gastaram.
Abandonei os meus. Fiquei so. Aprendi muito e realizei muitas coisas, mas estas
nunca foram minhas orações para ti. O que eu sempre orei pedindo a você eu so
tive quando eu te deixei.
Tuas
músicas, tuas palavras ainda estão em mim, foram muitos anos vivendo a seguir a
sua voz. Tua voz me acalentava e assustava. Eu pensava que eu te amava. Eu
pensava que tu me amava.
Como
eu poderia te amar se eu não me amava? Tuas palavras não curaram esse coração
sedento.
Me
dá um tempo. Talvez voltamos a ser amigos, so não seremos do mesmo jeito.
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